O QUE É AUTOCONHECIMENTO?

Andy Warhol, Autorretrato, 1986

Na Filosofia este conceito é um tema central desde a antiguidade e que remete à capacidade do indivíduo em entender de si mesmo, suas emoções, pensamentos, desejos e limitações, no que contém a compreensão da própria essência, identidade e propósitos. Envolverá a reflexão sobre crenças e valores, podendo proporcionar uma vida mais consciente e autêntica. Diferentes filósofos até os dias atuais abordaram o autoconhecimento de formas distintas.
 
“CONHECE-TE A TI MESMO”
Sócrates, filósofo da Grécia Antiga, teve esta frase icônica, que trata-se de um aforismo, atribuída a ele e foi adotada como um princípio fundamental da Filosofia. Para este filósofo, é importante investigar a própria essência antes de tentar compreender o mundo exterior e nomeá-lo como verdade, pois a partir do autoconhecimento que tem-se base para todos os outros conhecimentos. Segundo o filósofo conterrâneo Platão, Sócrates esteve presente no Templo de Apolo em Delfos, onde o oráculo afirmou que ele era o homem mais sábio que existia, porém, Sócrates respondeu com aquela que provavelmente é a sua frase mais conhecida: "Só sei que nada sei", reafirmando que ter conhecimento é para sempre.
 
Platão escreveu a célebre obra “República”, e no livro VII, apresenta o mito da caverna em que conta a vida de homens presos desde a infância numa caverna que tinha uma abertura por onde entrava a luz. Eles avistavam sombras originadas de uma fogueira no alto da colina em que passavam pessoas. Ouviam as vozes dos passantes, mas acreditavam que eram as sombras refletidas na parede da caverna que falavam. Platão propõe uma analogia à vida humana e a aquisição do conhecimento. O mundo que percebemos a partir dos nossos sentidos é um mundo ilusório e confuso e a saída da caverna escura representa a missão por conhecimento, que poderá ser alcançado por nosso intelecto.
"PENSO, LOGO EXISTO" 
René Descartes, filósofo francês da Idade Moderna datado entre os séculos XV e XVIII, teve sua icônica frase publicada no livro “O discurso do Método", em 1637, no qual discute o conceito da Certeza. Ele acreditava que a dúvida e a razão humana possibilitam o conhecimento verdadeiro, pois ao colocar em dúvida todos os conhecimentos já existentes, abre-se para alcançar a verdade. Sua frase veio do entendimento que enquanto estava duvidando, estava pensando, e por estar pensando, ele existia. Já Nietzsche, na Modernidade, avançou ao defender que o autoconhecimento não é apenas introspectivo, mas um processo de superação de valores impostos. Este importante filósofo questiona a moral tradicional e incentiva o indivíduo a construir seu próprio caminho, rompendo com valores impostos para alcançar o autoconhecimento autêntico. 
“INCONSCIENTE E CONSCIENTE” 
No século XX, a Psicanálise de Sigmund Freud e a Fenomenologia dos filósofos Heidegger e Sartre ampliaram a visão do autoconhecimento, considerando o inconsciente e a existência como partes fundamentais desse processo. Para a Psicanálise se trata de um processo contínuo de exploração do inconsciente que permitirá compreender traumas, padrões de comportamento e desejos ocultos, promovendo um melhor equilíbrio emocional e psíquico.
 
Podemos considerar o autoconhecimento se tratar de uma jornada constante, instigado na vida pelas dúvidas e perguntas que exigirão a vontade e o interesse para uma reflexão crítica e prática, essencial à aquisição de conhecimento, incentivando à uma vida mais autêntica, realizada e ética. 

O QUE É REALMENTE IMPORTANTE PARA MIM? 
O valor desta questão é imenso no processo do autoconhecimento!

Conhecer melhor a forma singular de ser quem é, seus desejos únicos, como entende o mundo que se relaciona, lhe coloca para além de restabelecer equilíbrio psicológico e emocional. Propulsiona refletir sobre seus princípios, prioridades, propósito de vida e direciona escolhas. Ponderar sobre o que é realmente importante para si, auxilia alinhar ações para o alcance de mais satisfações e com realizações positivas. Assumir este questionamento requer a reflexão acerca das próprias definições de valores; priorizar foco no que realmente interessa; dizer “não” ao que não se alinha com suas propostas; identificar o que te faz sentir pleno quando pensa sobre uma ideia de felicidade; tomar decisões quanto a escolha dos caminhos alinhados a sua essência. 
 
- O que me faz sentir realizado e em paz? 
- Quais são os princípios que guiam minhas decisões? 
- Pelo que eu gostaria de ser lembrado? 
- O que me faz acordar motivado todos os dias? 
 
VALORES PESSOAIS: O QUÊ ME PERMITO FAZER E REALIZAR 
Os valores pessoais atuam como um guia para escolhas e ações. Saber dos seus próprios valores é compreender acerca do que permite-se e autoriza. 

Valores pessoais são construídos sob influências de tradições e normativas transmitidos pela família, educação e meio social. No entanto, esses valores não são estáticos. A opinião sobre temas variados, antes bem definidos internamente, podem se transformar ao longo do tempo e dar lugar a novos conceitos e interpretações. Essa mutabilidade, de acordo com a Psicanálise, está diretamente ligada ao processo psíquico de elaboração e ressignificação das experiências vividas. Desde a infância, normas são internalizadas na estrutura subjetiva interagindo com os desejos, repressões e formações egóicas e superegóicas, conforme descrito na teoria de Sigmund Freud. Assim sendo, muitas introjeções destes aprendizados entram em choque com o que esta sendo desejado, gerando sentimentos de culpa ou de angústia. Essas tensões psíquicas podem necessitar uma revisão das crenças e dos comportamentos conhecidos, incentivando a novas adaptações. Estes valores influem o conceito de felicidade, uma vez que impulsiona o que se vive, experimenta na vida e compartilha com os outros.
 
 As perguntas aqui podem ser: 
- Quero casar e ter família? O que família representa para mim? Com ou sem filhos? 
- Quero ser bem-sucedido em que aspecto da vida? Profissionalmente? Pessoalmente? Financeiramente? 
- O que significa para mim ser correto com o outro? Qual é o meu conceito de justiça e ética? 
- O que não tolero no comportamento alheio? Por que essas atitudes me incomodam? 
- O que considero proibido para mim? Em quais circunstâncias estabeleço esses limites? 
- Tenho fé? E o que essa fé representa para mim? Religião, espiritualidade ou algo além? 
 
Somos seres em constante transformação e com necessidades para a interatividade social, portanto, é comum experimentar crises quanto aos valores aprendidos. Uma análise aprofundada pode ajudar a compreender de onde vêm determinadas crenças e valores, e permitir que sejam revistas, alinhando-se a construção de uma vida original autônoma em consonância com o que seu momento presente busca.
 
AUTOCONHECIMENTO PRODUZ DECISÕES MELHOR ACERTADAS SEM O PESAR DA CULPA 
Autonomia e liberdade responsável são resultados que o conhecimento sobre si mesmo promovem. 

René Magritte, gravura, 1939
 
O autoconhecimento não transforma ninguém em um novo alguém, e sim, possibilita reformular experiências e conflitos internos. Ter uma reflexão sobre a formação das nossas decisões e como respondemos a isso, impulsiona o amadurecimento psíquico, fortalecendo recursos internos para um enfrentamento mais equilibrado diante das adversidades. Compreender das próprias limitações, capacidades, potenciais e interesses favorece a construção de um Eu mais coeso e resiliente, ampliando condições de tolerância diante a vida e as relações. Ganha-se deste conhecimento a habilidade de encarar os erros de maneira mais generosa consigo próprio e quanto às circunstâncias sem o pesar da culpa. Erros e enganos fazem parte do processo evolutivo e saber sobre isso permite um olhar mais leve e construtivo sobre as falhas, evitando sofrimentos paralisantes. Falar NÃO é mais possível e legítimo, pois há clareza quanto aos motivos que fundamentam a negativa e a naturalidade com que expressa é autêntica, sem necessidades de agradar ou se submeter. Esse crescimento pessoal reflete diretamente na qualidade dos vínculos, tornando-os mais saudáveis e verdadeiros. Portanto, o autoconhecimento não é um destino final, mas um processo contínuo de construção subjetiva, que fortalece a identidade e possibilita escolhas mais alinhadas ao desejo genuíno de cada um. Investir nesse caminho é um ato de valor para si mesmo. 
 

Muitas vezes, a decisão pelo apoio da psicoterapia é o bom caminho. Para saber mais, leia o artigo indicado aqui do blog: O que esperar da Psicoterapia?

 
Todos os direitos reservados a autora. Ao compartilhar, deverá indicar o link.

FORMULÁRIO DE CONTATO

Nome

E-mail *

Mensagem *

⚠ ATENÇÃO

Se estiver num momento crítico, situação de violação de direitos, desastre ou violência, contate os serviços emergenciais e de segurança da sua cidade; hospitais ou pronto atendimento e comunique sua rede de contatos de segurança. Em caso de crise com ideação suicida, poderá também buscar apoio através do 188. Este site não oferece serviços para pronto atendimento urgente ou emergencial.