O QUE SÃO PSICOPATOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS? - ESTAMOS TODOS SOFRENDO DISSO?

Atualmente, muitos pacientes chegam ao consultório já identificando-se com algum diagnóstico pré-definido influenciados por generalizações que podem intensificar suas angústias. Para um psicodiagnóstico adequado é essencial uma análise criteriosa que considera muitos fatores, como os sintomas relatados, situações desencadeantes, duração e frequência das manifestações, o momento de vida, histórico pessoal e características de personalidade. A construção de um psicodiagnóstico poderá exigir várias entrevistas com o médico e, por vezes, complementada por uma avaliação psicológica. As psicopatologias são classificadas em diferentes categorias nos manuais médicos oficiais, variando conforme a intensidade e a persistência dos sintomas. 
 
POR QUE, HOJE EM DIA, CADA VEZ MAIS PESSOAS BUSCAM SE DEFINIR PSICOLOGICAMENTE POR ALGUMA PSICOPATOLOGIA?

Temos notado um aumento da conscientização sobre a importância da saúde mental como parte essencial para se alcançar uma boa saúde integralmente; e isto está contribuindo com que mais pessoas estejam buscando compreender melhor sobre seus próprios comportamentos e emoções. No entanto, vem sendo observado que a busca por estas informações está acontecendo, mais intensamente, por meio de fontes não especializadas e restringindo-se a internet, onde diagnósticos complexos são simplificados e popularizados. Assim, termos como ansiedade, TDAH, depressão e transtorno de personalidade se tornaram parte do vocabulário cotidiano, influenciando pessoas a se identificarem com características isoladas desses transtornos. 
Essa identificação com alguma psicopatologia pode oferecer um senso de pertencimento. Em um mundo cada vez mais individualista, encontrar uma comunidade de pessoas que compartilham experiências similares, oferece a sensação de conforto e validação. Grupos online e conteúdos produzidos por influenciadores digitais, por exemplo, contribuem para essa identificação coletiva, promovendo a ideia de que certos traços psicológicos são como identidades.
Outro fator relevante dos dias atuais é a busca por explicações para as dificuldades pessoais num modo imediatista. Confrontamos com adversidades que causam mal estar emocional e psicológico e ao encontrar um diagnóstico que parece justificar sentimentos, reações e comportamentos, sentimos alívio ao ter uma ideia de entendimento de si mesmo através de explicações que fazem sentido imediatamente. Vale ressaltar que sem um acompanhamento profissional, esta autodefinição pode incentivar a rótulos limitantes autoimpostos reduzindo a possibilidade para um franco crescimento pessoal e adaptações. 
 
 
Os aspectos culturais e midiáticos da contemporaneidade estão sendo considerados para esta análise coletiva, pois vem caracterizando uma valorização da vulnerabilidade e da exposição das fragilidades como modelo de aceitação social, incentivando à introjeção de diagnósticos sem necessidade clínica ou sem o interesse para uma investigação mais cuidadosa. Isto pode tanto levar a um maior acolhimento das questões de saúde mental quanto à sua banalização. 
Este fenômeno para a aceitação passiva de psicodiagnósticos  não deve ser visto como mera busca por validação e pertencimento, mas o reflexo de uma sociedade que exige uma dualidade complexa: ao mesmo tempo em que encoraja a performance e a produtividade, promove discursos de autocuidado e vulnerabilidade. Este paradoxo impõe um peso emocional significativo sobre os indivíduos. As pessoas se interessam mais por cuidar da saúde mental, porém querem se apropriar de um marcador identitário para ter o argumento que faz parte de um discurso midiático/cultural e que simplifica questões complexas da psique humana. O desafio está em equilibrar conscientização sobre saúde mental com busca responsável de diagnóstico preciso que esteja acompanhado por especialistas, evitando que transtornos psicológicos e questões emocionais da psique humana sejam reduzidos a tendências ou identidades sociais, ocasionando até, dependência por rotulações. 
 
É cada vez mais importante alcançar a compreensão que sofrimentos emocionais não indicam, necessariamente, a presença de uma psicopatologia ou doença mental. Por exemplo, diante uma dor emocional intensa e prolongada, acompanhada de agitação e comportamentos ansiosos que interferem na rotina, no humor e no comportamento, se refletem sintomas que são associados a uma psicopatologia. Essa manifestação pode ser uma resposta intensa a um conflito psíquico ou situação vivida ainda não superada, sem que isso, por si só, configure um transtorno psicológico ou mental categorizado. 
 
O QUE SÃO PSICOPATOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS? 
Psicopatologia é o estudo das causas e da natureza dos transtornos mentais, buscando compreender as patologias psíquicas e os fenômenos subjetivos da mente humana. Surgiu como um campo complementar à Psiquiatria, evitando rotulações estigmatizadas e promovendo uma reflexão mais ampla sobre a experiência subjetiva do indivíduo e os processos da vida psíquica. 
 
Hoje, a psicopatologia se dedica ao estudo dos transtornos mentais e dos sofrimentos psíquicos que estão emergindo ou se intensificando em resposta às condições socioculturais e tecnológicas da atualidade. As patologias estão refletindo novas formas de subjetivação influenciadas por fatores como, hiperconectividade, pressão por produtividade, precarização das relações humanas e mudanças nos padrões de comportamento. Diferentemente das psicopatologias clássicas, que se apresentavam sobre quadros clínicos bem definidos, as psicopatologias contemporâneas vem manifestando sintomas mais difusos, muitas vezes relacionados a este contexto sócio cultural. Isso exige uma abordagem clínica mais ampliada que leve em conta os fatores biológicos e individuais somados aos efeitos destas transformações no psiquismo humano decorrentes dos novos estilos de vida, avanços da tecnologia, das exigências do mercado de trabalho e dos modelos atuais de interatividade social.
 
Entre as principais manifestações desses transtornos atualmente, estão a depressão e a ansiedade generalizada, cada vez mais agravadas pela pressão social, pelo excesso de informação e pela constante comparação imposta pelas redes sociais. A síndrome de burnout, por exemplo, resulta do esgotamento físico e emocional causado pelo excesso de trabalho e pela necessidade de alta produtividade. Além disso, os transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, estão cada vez mais associados a padrões estéticos irreais propagados pela mídia e pelo ambiente digital. Outro fenômeno crescente é a dependência digital, caracterizada pelo uso compulsivo de redes sociais e dispositivos eletrônicos, que pode levar ao isolamento e ao prejuízo das interações presenciais. O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em adultos também têm sido mais diagnosticado, impulsionado pelo excesso de estímulos e pela necessidade de multitarefa no cotidiano moderno. Fobias sociais e a insegurança extrema em relação à autoimagem são amplificadas pelo ambiente virtual, onde a exposição constante a padrões idealizados pode gerar crises de identidade e baixa autoestima. 
 
Esses transtornos que estão fortemente associados aos fatores culturais, sociais e econômicos, podem estar sendo potencializados pelo consumismo, pela sobrecarga de informações e pela dificuldade de estabelecer conexões humanas genuínas. 
 
É sensato buscar orientação médica especializada e apoio psicológico para um psicodiagnóstico preciso e um tratamento adequado. Medicação controlada exige indicação e acompanhamento, enquanto a psicoterapia desempenha papel importante no cuidado psíquico responsável e eficaz.
 
💡 Se não sentir-se seguro ou confiante frente um diagnóstico concluído por profissional, refaça o percurso buscando novas opiniões profissionais. 
 

Para refletir alternativas quanto ao cuidado psíquico, convido a leitura de artigo aqui no blog: O que é Autoconhecimento?
 
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